O ensino superior durante e pós pandemia de COVID-19: as reações em diferentes contextos

O ensino superior durante e pós pandemia de COVID-19: as reações em diferentes contextos

O período da pandemia de COVID-19 foi uma oportunidade para repensar os pressupostos sobre a educação em geral e o ensino superior em particular. Diante da crise geral provocada pela pandemia, principalmente quando se trata do chamado ensino remoto emergencial, educadores de diferentes contextos culturais vivenciaram a necessidade de repensar seus papéis, as formas de apoiar as tarefas de aprendizagem e a imagem dos alunos como aprendizes auto-organizados. Até que ponto o ambiente universitário pandêmico preparou alunos como cidadãos ativos e agentes sociais autônomos?

Como o aprendizado mediado por tecnologia e a experiência acumulada neste período pode ajudar a preencher a lacuna entre o ensino online e presencial? 

Talvez a experiência ‘forçada’ de ensino com tecnologias digitais pode dar lugar a uma hibridização no ensino superior cujo objetivo é a integração harmoniosa de ferramentas e métodos físicos e digitais objetivando uma aprendizagem mais ativa, flexível e significativa.

De maneira geral, observam-se atitudes semelhantes em diferentes partes do país, onde há a dualidade ‘no campus’ versus ‘online’. Isso pode ocultar escolhas mais sutis e integrativas de tecnologias educacionais aplicadas ao processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, se o ato educacional é de fato uma ação comunicacional, o engajamento e a motivação são aspectos fundamentais no processo. A “percepção de sucesso” versus “percepção de trapaça” também é tema de discussão em diversas rodas de conversa com docentes. Até que ponto os instrumentos de avaliação tão eficazes no ensino presencial mostraram-se tão frágeis no ambiente on-line? Algo ficou claro: até que ponto tais instrumentos possibilitam o protagonismo do aluno a encontrar soluções autorais e criativas, ou ainda, será que a medição de aprendizagem está calcada em demonstrar a proficiência no acúmulo de conteúdo? Não existe um caminho apenas. As unidades curriculares têm características distintas. Algumas disciplinas básicas trabalham com a apresentação de um vocabulário, a formação de repertórios atinente à área do saber e elementos constructos. Outras disciplinas lidam com a sintaxe e arranjo destes elementos permitindo a ampliação do conhecimento e ainda possibilitando expressões próprias, criatividade de soluções e proposição de projetos. Para cada uma delas pressupõe-se a eleição de um instrumento compatível com aquilo que deve ser medido em termos de aprendizagem. A avaliação deve estar necessariamente permeada de ética, coerência e honestidade. Nos Estados Unidos, Aguilera-Hermida (2020) realizou um estudo privilegiando este tópico. Pesquisou estudantes universitários com o objetivo de revelar sua atitude, afeto e motivação em relação aos métodos avaliativos, mapeamento de aspectos positivos e negativos e ainda, o controle comportamental durante as avaliações on-line.

Os resultados indicam claramente que a transição para o aprendizado remoto foi uma experiência desagradável para a maioria dos alunos entrevistados, que afirmaram que o aprendizado online foi mais difícil e menos motivador do que o presencial, principalmente devido ao acesso limitado a recursos para concluir tarefas práticas, laboratórios e oficinas.

O estudo também indica que os aspectos positivos relatados não foram relacionados à experiência educacional, mas ao fato de passar mais tempo em casa e menos tempo na escola.  Sobre as questões de interação e trabalhos em grupo, não houve reclamação, pois é recorrente que as interações sociais já ocorrem na modalidade on-line. 

Na Índia, uma pesquisa de maior abrangência apontou aspectos fundamentais para o sucesso da migração presencial – online. Gopal et al. (2021) mostraram uma correlação positiva entre a qualidade do instrutor, o design instrucional do curso, a crença que o ensino online não é a transposição dos conteúdos e estratégias do ensino presencial e a necessidade de feedback imediato para o atendimento de expectativas dos alunos.

Moorhouse et al. (2021) cita que os dados da pesquisa revelaram experiências mistas. Há a necessidade de explorar os fatores pessoais e profissionais, como experiências, estratégias de ensino e crenças. O estudo indica que os professores motivados na sala de aula tradicional não necessariamente mantêm sua motivação quando forçados por circunstâncias à transição para o ensino online. Estudos realizados na Australia apontam que os alunos valorizavam o aumento das oportunidades para gerenciar seu próprio tempo e a maior variedade de métodos de avaliação disponibilizados para eles. Houve também evidências de melhores resultados acadêmicos. Os alunos relataram negativamente quando tiveram problemas relacionados à tecnologia, onde o acesso ao corpo docente era restrito e onde os professores mostraram que não tinham experiência suficiente no uso de instrumentos digitais.

Concluindo, existem reflexões a serem realizadas pelos docentes, principalmente sobre fatores da flexibilidade, empoderamento de professores e alunos, novas estratégias de ensino e aprendizagem, novos processos e instrumentos de avaliação. A discussão pode estar enfatizada em questões como:

  • Como a avaliação da aprendizagem pode mudar na era pós-Covid?
  • Como compartilhar lições e aprendizagens docentes realizadas durante este período?
  • Como melhorar as habilidades de autorregulação, organização e responsabilidade dos seus alunos? Que tipos de atividades podem ser pensadas a este respeito?
  • Como os professores universitários podem pensar sobre si mesmos e seu papel agora? Como a identidade docente pode se transformar, incorporando as boas práticas aprendidas?
  • Qual é o papel que as tecnologias digitais e o ensino a distância podem desempenhar na educação presencial após a experiência do Covid-19?

A somatória de diferentes olhares pode produzir algo novo, gerar insights significativos e impactar positivamente nas atividades presenciais. É só uma questão de organização, diálogo e disponibilidade coletiva.

Referências

Aguilera-Hermida, A. P. (2020). College students’ use and acceptance of emergency online learning due to Covid-19. International Journal of Educational Research Open, 1. https://doi.org/10.1016/j.ijedro.2020.100011.

Gopal, R., Singh, V., & Aggarwal, A. (2021). Impact of online classes on the satisfaction and performance of students during the pandemic period of COVID 19. Education and Information Technologies. https://doi.org/10.1007/s10639-021-10523-1.]

Mehan, H. (2013). Learning lessons: Social organization in the classroom. New York: Harvard University Press.

Moorhouse, B. L., & Kohnke, L. (2021). Thriving or surviving emergency remote teaching necessitated by COVID-19: university teachers’ perspectives. The Asia-Pacific Education Researcher. https://doi.org/10.1007/s40299-021-00567-9.

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